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Malunguinho: O Protetor dos Fugitivos Nos Braços do Juremá


A noite havia caído espessa como o breu, e o silêncio da mata só era cortado pelo lamento abafado de um homem ferido.

Seu nome era Joaquim, um escravizado fugido do engenho de São Bento, que corria havia dias sem rumo certo, guiado apenas pela esperança de liberdade.

Suas pernas já mal sustentavam o corpo, e o sangue seco nas costas contava as marcas do chicote.

A floresta, com seus sons e sombras, parecia querer engolir o homem desesperado.

Cada galho quebrado o fazia estremecer. Já não sabia se era caçado por homens ou por espíritos antigos.

Com os olhos marejados, tombou junto a uma árvore centenária, envolta em cipós, e ali murmurou com a alma:

— Meu pai... minha mãe... alguém me salve…

Foi quando o vento mudou.

Um silêncio sagrado se espalhou entre as árvores, como se até os animais reverenciassem algo maior que se aproximava.

A névoa se ergueu dos arbustos e, dela, surgiu uma figura imponente, de pele negra e olhos como carvões acesos.

Usava chapéu de palha, calça branca, uma faixa vermelha na cintura, e trazia um bastão de madeira nas mãos.

Era Malunguinho.

Joaquim tentou se mover, mas não conseguia.

O estranho se aproximou sem fazer barulho, como se a terra o recebesse com carinho.

Ao seu lado, a mata parecia respirar.

Malunguinho não falou com a boca, mas com o coração, e sua voz soou dentro da mente de Joaquim como um canto antigo, de aldeia, de quilombo, de terreiro.

— Nego véio, tua dor é ferida minha. Tua fuga é o caminho que eu guardo. Descansa, que agora estás em meu território.

Malunguinho então se ajoelhou, pousou a mão sobre o peito do homem e soprou um vento morno, que penetrou o corpo de Joaquim e levou embora a dor.

As feridas se fecharam lentamente.

A exaustão deu lugar a um calor que reacendia a vida.

— Aqui, filho da terra, ninguém te toca

— Disse ele enfim, com voz firme como o trovão.

— Esta mata tem dono.

E sou eu quem protege os que correm com fé.

Com um gesto do bastão, abriu-se uma trilha oculta entre as árvores, iluminada por vaga-lumes que não tremiam.

Era o caminho para o Quilombo do Catucá, onde outros irmãos livres viviam.

Malunguinho guiou Joaquim até a beira da trilha e ali parou.

— Vai, irmão. Tua liberdade já foi escrita nas folhas do Juremá. E quando ouvires o tambor, saberás que estou perto.

Joaquim, com os olhos cheios de gratidão e o coração em paz, se despediu com um gesto reverente.

Sabia que havia tocado o sagrado, e que Malunguinho não era apenas um homem — era espírito, era rei, era guardião.

E assim, enquanto a mata se fechava novamente, a voz de Malunguinho ecoou entre os troncos como um ponto entoado pelo vento:

"Na mata ninguém me pega,Na mata sou caçador,Quem tem fé, chama Malunguinho,Que Malunguinho é protetor..."

 

🖤✨ Sobonire mafa, Malunguinho! Viva a força dos encantados! ✨🖤

 

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